A Fonte Nova não é mais a mesma. Do estádio inaugurado em 1951 com o nome oficial de Octávio Mangabeira e expandido duas décadas depois, restam o formato e a memória. A famosa ferradura continua brindando o público com a imagem do Dique do Tororó. Os orixás permanecem abençoando o verde sagrado do futebol. Na arquibancada, a alma que transcendia do cimento deu espaço às cadeiras. Ela passou a ser internacional. Como uma bela anfitriã, transformou-se em Fonte dos Gols na Copa do Mundo. Virou atração mundial e o local preferido dos atacantes. Foi lá que Van Persie marcou o gol que concorre ao Prêmio Puskas 2014. Passou a ser referência de alegria e emoção. Essa é a memória recente do palco com a alcunha de Arena. Mas nada vai apagar o que se passou há exatos sete anos, na última vez em que a Fonte Nova abriu as portas ainda com o status de estádio e o nome do ex-governador da Bahia cravado em sua estrutura.

Nesta terça-feira, 25 de novembro de 2014, completam-se sete anos da maior tragédia do futebol baiano. Nesta data, em 2007, o momento era para ser marcado pela alegria do retorno do Bahia à Série B do Campeonato Brasileiro. O Tricolor enfrentava o Vila Nova quando, por volta dos 35 minutos, parte do anel superior cedeu. Aqueles que pulavam aos gritos de “Vamos para a Série B” perderam o chão. A queda foi de uma altura superior a 20 metros. Despencaram quase imperceptivelmente. O jogo continuou até o fim. Os mais de 60 mil tricolores presentes no estádio comemoraram como se nada tivesse acontecido. Muitos invadiram o gramado para externar a alegria pelo fim do martírio na então última divisão do Brasileiro. A euforia, aos poucos, foi se transformando em aflição com avanço do boato.
- A arquibancada caiu!
O boca a boca dava indícios de uma tragédia. O trio no lado de fora do estádio - contratado pela diretoria do Bahia - foi orientado a desplugar os equipamentos. Neste momento, não era apenas só um boato. A tragédia estava consumada. Sete corpos aguardavam a perícia em uma escadaria do lado externo do estádio. Márcia Santos Cruz, 27 anos; Jadson Celestino Araújo Silva, 25 anos; Milena Vasquez Palmeira, 27 anos; Djalma Lima Santos, 31 anos; Anísio Marques Neto, 27 anos; Midiã Andrade Santos, 24 anos, e Joselito Lima Jr, 26 anos, saíram de suas casas para ver o Bahia e não retornaram. Seus últimos momentos foram ao lado de milhares de tricolores. Vibravam, cantavam, sorriam e pulavam, quando o cimento utilizado para o impulso lhes faltou sob seus pés.
Além das sete vítimas fatais, dezenas de outras pessoas ficaram feridas. Estas tiveram a sorte de cair pelo lado de dentro do estádio. Do lado de fora, os corpos caíram uns sobre os outros. A cena de horror foi também a salvação de um torcedor. Jader Landerson, então com 17 anos, teve o impacto reduzido pelos outros tricolores e é considerado o único sobrevivente da tragédia. Hoje ele pode comemorar um renascimento, mas não esquece a fratura em três vértebras da coluna, a lesão em parte da coxa esquerda e o distúrbio causado pela pancada na cabeça.
Aos familiares das vítimas restou o suporte - muitas vezes falho - do estado. A Fonte Nova era administrada, na época, pela Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). A autarquia, então comandada pelo ex-jogador Raimundo Nonato Tavares, o Bobô, havia recebido um relatório elaborado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquiteturas e Engenharia (Sinaenco) que indicava o estádio como o pior entre 29 do Brasil. Nada foi feito. Ninguém foi responsabilizado pela tragédia. (GE)
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